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Concurso de fotografia “Olhar Barroso”

Concurso de fotografia “Olhar Barroso”

Foi com enorme satisfação que recebi hoje a notícia de ter sido o vencedor do concurso fotográfico “Olhar Barroso” promovido pelo Ecomuseu de Barroso – Montalegre.
Desde há muitos anos, tenho percorrido esta região, riquíssima no seu património humano, cultural e paisagístico, onde vou granjeando amigos e ao mesmo tempo registando pequenos fragmentos das vivências rurais e tradições que fazem parte intrínseca da nossa nacionalidade, da nossa identidade.
Dedico este prémio às gentes do Barroso, principalmente aos mais velhos que viveram dias amargos, mas ainda demonstram uma coragem e uma tenacidade impressionantes. Como já alguém disse “comeram o pão que o diabo amassou”. A todos eles a minha maior admiração e respeito. É desta forma que os fotografo.
Esta a imagem vencedora

A Fornada

A Fornada

Texto de Aurora Simões de Matos

Belíssimo este poema

Ti Zefa da Pereira vai cozer o pão

a grande fornada da semana inteira

O forno que fica por cima do lume

está quase pronto, vazia a pilheira

de pinhas, chamiças, cavacos e torgas

mesmo ali juntinho, perto da lareira

Quando ganhar lastro, quando ficar quente

varre-o com vassoura feita de carqueja

arrastando a cinza ainda abrasida

à boca escaldante, mesmo para a beira

Tira um pedacinho de massa à masseira

põe-no na escudela que foi polvilhada

Trabalha brincando a bola que salta

molinha, tenrinha, e que salteada

tendida, estendida, redonda, achatada

vai na pá de ferro ao forno a cozer

coberta de carne, carne entremeada

ou então sardinha, sardinha escochada

O calor, a cinza, as brasas ajeita

para o forno aberto Ti Zefa espreita

E enquanto espera que a bôla se coza

para engalhar a fome à merenda dos seus

revive na mente a imensa canseira

de cozer o pão da semana inteira

Arregaça a saia, arregaça as mangas

e sempre encostada à grande masseira

despeja da saca a farinha de milho

que nessa manhã lhe trouxe a moleira

e roda que roda, batendo a peneira

polvilhos de neve de alva brancura

vão formando um monte dentro da madeira

E na maciez dessa fina alvura

faz um buraquinho onde há-de caber

o sal dissolvido em água bem quente

e o peso certo do santo fermento

que não é só seu, é de toda a gente

Começa a mistura com jeito e doçura

a seguir ao que, penosa tarefa

é o amassar mexido, batido

furado, entranhado, puxado, gemido

socado, suado, sovado à mão

num dançar ritmado até à exaustão

Ajeita-se a um canto a massa já pronta

polvilha-se, benze-se, sulca-se uma cruz

e entrega-se assim nas mãos de Jesus

que o há-de fintar e fazer crescer

que é pão de outra cruz do nosso viver

Depois é no forno metê-lo e cozê-lo

durante umas horas à porta fechada

com porta de ferro, com lama vedada

e quando se tira, bem quente, cheiroso

é pô-lo na tábua ‘inda a fumegar

Cinco grandes broas que bem governadas

hão-de na semana a fome matar

Só filhos são cinco – o home anda fora

mourejando a vida em terras distantes

e tem que tratar do seu pai agora

sem forças, que as forças se foram embora

As forças da vida, em cada tarefa

põe-nas com amor a boa Ti Zefa

criando seus filhos sozinha – e são tantos

no duro trabalho do monte e dos campos

a que dá inteiro o seu coração

como quando coze, no forno, seu pão

Entrudo na Misarela

Entrudo na Misarela

O entrudo é uma manifestação cultural, remonta a tempos longínquos e simboliza o fim do Inverno dando entrada à primavera e à fertilidade. Nesta manifestação em particular, o Jorge Paulo Leal Martins organizador deste evento e artesão destas impressionantes máscaras, leu o testamento queimando-se depois o entrudo na mítica Ponte da Misarela mais conhecida pela ponte do diabo sobre o rio Rabagão, um dos afluentes do rio Cávado, que nasce na serra do Larouco e vem desaguar a Esposende. Falou-se ainda das invasões francesas e da sua passagem por esta ponte, onde morreram muitos guerreiros caídos abaixo da mesma, junto com os cavalos em pânico.

Sobre esta ponte:

“Reza a lenda que um fugitivo vendeu a alma ao diabo, para que ele edificasse uma ponte e permitisse a sua fuga. Mais tarde, em confissão, revelou o segredo a um padre que se deslocou ao local e fez a mesma promessa ao diabo, mas, em vez de fugir, aspergiu-lhe água benta com um ramo. Como a ponte ficou benzida, o povo começou a acreditar que lá se poderiam operar milagres. Como havia muitas mães que não conseguiam vingar os filhos, o casal quando sentia que a mulher estava grávida, ia, e vai, para lá antes da meia-noite, leva uma corda e um copo, acende uma fogueira de lume no meio do arco da ponte e espera até passar a 1ª pessoa para lhe baptizar o filho no ventre materno. Se vingasse e fosse menino chamaria-se Gervásio, se fosse menina chamaria-se senhorinha. Ainda hoje existem muitas mulheres que acreditam na lenda. Será que a lenda tem um fundo de verdade? Não sei! A verdade é que no nosso Barroso há muitos Gervásios e muitas Senhorinhas.”

Festa do Pastor

Festa do Pastor

Era dia de romaria lá na serra. Numa pequena e pacata aldeia de Viseu, os pastores preparavam com afinco as suas ovelhas para mais um dia festivo. Comemorava-se o dia do pastor. A azáfama era grande, põe lacinhos nesta, põe pom pons naquela, pinta uma bolinha amarela azul e vermelha na outra, põe uns brincos na mais pequena. Enfim todos ajudavam no making-of e o rebanho ia ficando colorido e charmoso. As ovelhas iam-se sentindo cada vez mais vaidosas e posavam para as fotos com muito à-vontade, afinal já tinha passado um ano desde a altura que nos conhecemos. O Sr. Marcolino lá se ia lamentando que este seria o último ano. E a Pomba? (nome da ovelha que comandava o rebanho), perguntei eu. Nem queira saber sr. Armando, mataram-ma. Antes queria perder 500 contos, dizia o homem cabisbaixo e muito consternado. Finalmente o rebanho está pronto e era altura de o levar a pastar, pois estas coisas da manicura, pedicura e maquiagem dão uma certo apetite às princesas. Aprendizes de pastor não faltavam a querer tomar a dianteira no rebanho todo engalanado. Era bonito de se ver, as cores saturadas do dia chuvoso reforçavam ainda mais a beleza dos caprinos, o contraste do verde da vegetação, o branco das ovelhas e o colorido dos adornos conferiam à paisagem um ambiente sui generis. Entretanto o tempo ia passando e lá chegava a hora da missa lá na capela, os rebanhos iam-se juntando a até chegar o momento solene da bênção, protagonizada pelo padre lá da paróquia. A cerimónia é realizada com pompa e circunstância e de seguida os rebanhos conduzidos por cada um dos seus líderes, iniciam uma correria até fecharem um círculo à volta do santuário. Os animais vão correndo até os da frente se juntarem aos de trás. Quando isso acontece o pastor enfrenta-as e faz parar o rebanho obrigando este, ao mesmo ritual, mas em sentido contrário. No final cada um dos donos dos rebanhos oferece uma para leilão. E assim está cumprida a tradição, onde não falta a boa merenda, muita festa e animação.

Armando Jorge

Neste meu trabalho são apresentadas imagens de 2015 e 2016.

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