Select Page
Banho Santo – S. Bartolomeu do Mar

Banho Santo – S. Bartolomeu do Mar

O banho Santo é um ritual religioso popular, onde centenas de crianças tomam parte em São Bartolomeu do Mar, Esposende, na tentativa de curar os seus medos, tais como o de “estar sozinho à noite, no escuro”, afastar más influências e “esconjurar todas as doenças e malefícios do diabo”. Esta tradição tem lugar no dia 24 de Agosto durante a celebração da Festa de São Bartolomeu.

No ritual, a criança é agarrada pelo “banheiro” ou sargaceiro da freguesia, com seus trajes característicos, que as emerge num número de ondas ímpar, sendo em regra três, com o objectivo de a livrar de inúmeras maleitas enviadas pelo Diabo, tais como o medo, a gaguez e a epilepsia, que são as mais populares, entre muitas outras.

Nesse rito, a criança era tomada no braço e mergulhada no meio das ondas, sendo-lhe feita o sinal da cruz e mergulhando-lhe a cabeça nas ondas, depois o seu corpo, sem recitar qualquer palavra ou oração. A água que lhe escorre é limpa da cara e volta-se a repetir o “banho”.

Uma vez dado o “banho” a criança é entregue aos pais ou familiares na areia, onde é dada uma recompensa, esmola, ao banheiro.[1]

Nesse dia, os populares juntam-se aos milhares na praia, com roupa de domingo e fazem uma refeição ritual confeccionada à base de galinha preta. Também faz parte do ritual a oferta de uma galinha preta que é oferecida ao santo e deixada na sacristia.[2]

“Segundo a lenda, todos os anos, no dia 24 de Agosto, o diabo – simbolizado num cão atrelado à imagem de S. Bartolomeu – anda à solta, só voltando ao mar quando anoitece. Por isso, durante o dia, as crianças tomam banho nas águas ‘puras’ e, sobretudo, gélidas do Atlântico a fim de ser curadas de males como medo, gaguez ou epilepsia.

Além disso, crianças e adultos pegam numa galinha preta ao colo, dão três voltas à igreja de S. Bartolomeu e passam – também três vezes – por baixo do andor florido que se encontra no interior do templo e que à tarde, com o cão atrelado, vai na procissão até à areia, onde é feito o sermão, perante milhares de pessoas que aproveitam para gozar um dia de praia.

Origem: Wikipédia

A Fornada

A Fornada

Texto de Aurora Simões de Matos

Belíssimo este poema

Ti Zefa da Pereira vai cozer o pão

a grande fornada da semana inteira

O forno que fica por cima do lume

está quase pronto, vazia a pilheira

de pinhas, chamiças, cavacos e torgas

mesmo ali juntinho, perto da lareira

Quando ganhar lastro, quando ficar quente

varre-o com vassoura feita de carqueja

arrastando a cinza ainda abrasida

à boca escaldante, mesmo para a beira

Tira um pedacinho de massa à masseira

põe-no na escudela que foi polvilhada

Trabalha brincando a bola que salta

molinha, tenrinha, e que salteada

tendida, estendida, redonda, achatada

vai na pá de ferro ao forno a cozer

coberta de carne, carne entremeada

ou então sardinha, sardinha escochada

O calor, a cinza, as brasas ajeita

para o forno aberto Ti Zefa espreita

E enquanto espera que a bôla se coza

para engalhar a fome à merenda dos seus

revive na mente a imensa canseira

de cozer o pão da semana inteira

Arregaça a saia, arregaça as mangas

e sempre encostada à grande masseira

despeja da saca a farinha de milho

que nessa manhã lhe trouxe a moleira

e roda que roda, batendo a peneira

polvilhos de neve de alva brancura

vão formando um monte dentro da madeira

E na maciez dessa fina alvura

faz um buraquinho onde há-de caber

o sal dissolvido em água bem quente

e o peso certo do santo fermento

que não é só seu, é de toda a gente

Começa a mistura com jeito e doçura

a seguir ao que, penosa tarefa

é o amassar mexido, batido

furado, entranhado, puxado, gemido

socado, suado, sovado à mão

num dançar ritmado até à exaustão

Ajeita-se a um canto a massa já pronta

polvilha-se, benze-se, sulca-se uma cruz

e entrega-se assim nas mãos de Jesus

que o há-de fintar e fazer crescer

que é pão de outra cruz do nosso viver

Depois é no forno metê-lo e cozê-lo

durante umas horas à porta fechada

com porta de ferro, com lama vedada

e quando se tira, bem quente, cheiroso

é pô-lo na tábua ‘inda a fumegar

Cinco grandes broas que bem governadas

hão-de na semana a fome matar

Só filhos são cinco – o home anda fora

mourejando a vida em terras distantes

e tem que tratar do seu pai agora

sem forças, que as forças se foram embora

As forças da vida, em cada tarefa

põe-nas com amor a boa Ti Zefa

criando seus filhos sozinha – e são tantos

no duro trabalho do monte e dos campos

a que dá inteiro o seu coração

como quando coze, no forno, seu pão

Festa do Pastor

Festa do Pastor

Era dia de romaria lá na serra. Numa pequena e pacata aldeia de Viseu, os pastores preparavam com afinco as suas ovelhas para mais um dia festivo. Comemorava-se o dia do pastor. A azáfama era grande, põe lacinhos nesta, põe pom pons naquela, pinta uma bolinha amarela azul e vermelha na outra, põe uns brincos na mais pequena. Enfim todos ajudavam no making-of e o rebanho ia ficando colorido e charmoso. As ovelhas iam-se sentindo cada vez mais vaidosas e posavam para as fotos com muito à-vontade, afinal já tinha passado um ano desde a altura que nos conhecemos. O Sr. Marcolino lá se ia lamentando que este seria o último ano. E a Pomba? (nome da ovelha que comandava o rebanho), perguntei eu. Nem queira saber sr. Armando, mataram-ma. Antes queria perder 500 contos, dizia o homem cabisbaixo e muito consternado. Finalmente o rebanho está pronto e era altura de o levar a pastar, pois estas coisas da manicura, pedicura e maquiagem dão uma certo apetite às princesas. Aprendizes de pastor não faltavam a querer tomar a dianteira no rebanho todo engalanado. Era bonito de se ver, as cores saturadas do dia chuvoso reforçavam ainda mais a beleza dos caprinos, o contraste do verde da vegetação, o branco das ovelhas e o colorido dos adornos conferiam à paisagem um ambiente sui generis. Entretanto o tempo ia passando e lá chegava a hora da missa lá na capela, os rebanhos iam-se juntando a até chegar o momento solene da bênção, protagonizada pelo padre lá da paróquia. A cerimónia é realizada com pompa e circunstância e de seguida os rebanhos conduzidos por cada um dos seus líderes, iniciam uma correria até fecharem um círculo à volta do santuário. Os animais vão correndo até os da frente se juntarem aos de trás. Quando isso acontece o pastor enfrenta-as e faz parar o rebanho obrigando este, ao mesmo ritual, mas em sentido contrário. No final cada um dos donos dos rebanhos oferece uma para leilão. E assim está cumprida a tradição, onde não falta a boa merenda, muita festa e animação.

Armando Jorge

Neste meu trabalho são apresentadas imagens de 2015 e 2016.

Cozedura do pão em Tourém

Cozedura do pão em Tourém

… o forno termina a sua faina e dele brotam pães de centeio amassados por mãos carregadas de saberes que o tempo leveda….

Reza da masseira:

“São Mamede te levede
São João te faça pão
São Vicente te acrescente”

Rezam-se três Avé-Marias e termina-se “Ámen”

Reza do cantador:

“Que cresça o pão e o bem no mundo todo”

E faz-se a Cruz de Cristo

Estas imagens foram registadas em 2011 e serviram de suporte a uma publicação na revista BO de Trás os Montes

 

 

en_GBEnglish